Em artigos anteriores, apresentei as descobertas em Nuzi (Mesopotâmia) e Elefantina (Egito) e Ebla (Síria) que o doutor biblista Padre Raymond E. Brown apresenta no livro “Recent discoveries and the Biblical world”. Aqui, trataremos de Ugarit e Mari, essas descobertas não apontam para a alteração do Antigo Testamento, mas do entendimento de muitos trechos.
Na costa do Mediterrâneo, cerca de 120 km a oeste-sudoeste de Ebla, está Ugarit (moderna Ras Shamra), escavada por uma expedição sa desde 1929. Ugarit foi ocupada no sétimo milênio a.C. e caiu diante dos “Povos do Mar”, os filisteus bíblicos.
Descobriram muitas tabuinhas de argila em escrita cuneiforme, a maioria datada dos séculos XIV e XIII a.C., e são mais literárias do que as tabuinhas de Ebla. Os textos ugaríticos preservam mitos cananeus antigos sobre o deus-pai supremo El e o jovem e ativo Baal, que matou o deus do mar Yamm e o monstro marinho Lotan (equivalente ao Leviatã bíblico).
Paralelos com Elohim e Yahweh foram sugeridos, pois Deus derrota o monstro marinho Raabe ou Leviatã (Lotan) em Isaías 27,1 e 51,9, Salmos 74,13-14 e 89,10 e Jó 26,12. Outra lenda (Aqhat) menciona Danel, possivelmente equivalente ao Daniel de Ezequiel 14,14-20 (e 28,3), associado a figuras primordiais como Noé e Jó.
Mitchell Dahood reinterpretou muitos versos obscuros dos Salmos à luz de paralelos ugaríticos atribuindo-lhes significados quase totalmente novos. A validade desse método é debatida, mas poucos negam que Ugarit se tornou um pano de fundo essencial para entender o hebraico antigo.
O sítio de Mari (Tell Hariri), no Eufrates, escavado nas décadas de 1930 e 1950, revela que Mari dominava as rotas de caravanas para o mar e para os afluentes do norte. Mari tem vestígios do terceiro milênio a.C. (contemporânea a Ebla), mas seu apogeu foi de 1750–1697 a.C., quando o rei Zimri-Lim era aliado de Hamurabi da Babilônia.
Os patriarcas bíblicos são frequentemente associados a essa época. Antes da migração de Abraão para Canaã, ele e seus ancestrais viviam na região de Harã, área que às vezes estava sob o domínio de Mari. O sítio revelou um magnífico templo, palácio, zigurate (templo em degraus), estátuas e pinturas e, o mais importante, 20.000 tabuinhas de arquivos reais e comerciais.
Embora a maioria das tabuinhas esteja em acadiano (semítico oriental), a população de Mari era majoritariamente amorita (semítico ocidental), um povo que dominou a Mesopotâmia no século XVIII a.C.. Abraão e seus ancestrais são, às vezes, identificados como amoritas.
Nessas tabuinhas aparece a cidade de Naor, nome também do avô (Gn 11,22-25) e do irmão de Abraão (11,27-29). Zimri-Lim é descrito em conflito com os Banu-Yamina (“Filhos da Direita”), grupo que tem o mesmo nome da tribo israelita de Benjamim, também conhecida por suas habilidades militares.
A designação curiosa dos siquemitas que lidaram com Jacó como “Filhos de Hamor (Jumento)” (Js 24,32) pode refletir um costume atestado em Mari de matar um jumento para selar uma aliança. Veremos ainda outras descobertas que ajudam a ampliar o entendimento da Bíblia.
Mario Eugenio Saturno (fb. com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano
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